Num contexto de esforços globais para frear as mudanças climáticas, retaliar países que não contribuem para essa luta é válido. Porém, é muito difícil definir o que é razoável e justo, disse à Sputnik Brasil o pesquisador Sérgio Margulis.
Recentemente, com os dados divulgados sobre o aumento das queimadas e do desmatamento na Amazônia, especulou-se sobre a possibilidade de investidores deixarem de enviar recursos ao Brasil.
"Não é algo tão simples como parece. ‘Ah, não gostei da atuação do governo aqui e por isso vou retaliar comercialmente’. São decisões complexas, seja de governo ou empresas, que envolvem a Organização Mundial do Comércio e tratados", afirmou o doutor em Economia Ambiental e ex-funcionário do Banco Mundial.
Em termos concretos, o grupo financeiro Norde Asset Management anunciou que colocaria em quarentena títulos da dívida soberana brasileira devido a riscos políticos e ambientais. O banco controla mais de 200 bilhões de euros em fundos. A varejista de moda H&M afirmou que não compraria mais couro brasileiro até ter certeza que não estaria contribuindo para a destruição da Amazônia.
Além disso, a Noruega e a Alemanha congelaram suas contribuições para o Fundo Amazônia após o governo colocar em xeque a gestão do mecanismo. E alguns países europeus, como França e Áustria, ameaçam não ratificar o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia em função do desmatamento na Amazônia.
Para Margulis, desde que o governo de Jair Bolsonaro assumiu, a possibilidade de retaliação é aventada, já que o presidente tem uma "sinalização clara de que não tem compromisso com a questão climática e amazônica, ou até o contrário, teria compromisso no sentido de reverter tudo que foi feito no passado".
'EUA e Brasil vão na contramão dos esforços globais'
Por isso, avalia o especialista, algum tipo de resposta de outros países e empresas seria "válido" em relação ao Brasil, assim como aos EUA.
"Os Estados Unidos, com Donald Trump, e o Brasil estão completamente na contramão do esforços globais contra a mudança climática, é sensato que exista algum tipo de penalização. Mas como fazer e contextualizar isso é o grande problema", afirmou o ex-presidente da Feema (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Amiente), do Rio de Janeiro, atual Inea (Instituto Estadual do Ambiente).
Margulis, no entanto, disse que é "difícil definir o que é justo, razoável e legal" no momento de se efetuar algum tipo de punição. "É preciso ter um fair play" nesse momento, acrescentou.
Questão ambiental está em segundo plano na hora de investir
O especialista também explica que a questão ambiental é levada em conta no momento de investidores pensarem em aplicar em outros países, mas apenas timidamente, ficando atrás de outros fatores.
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