Alvo de intensas disputas e fonte de calorosas discussões entre ambientalistas e exploradores, a Amazônia necessita de outro tipo de modelo para que seja aproveitado todo o seu potencial de desenvolvimento. É o que defende o climatologista Carlos Nobre, partidário de uma chamada "terceira via" para a floresta.
Vinculado ao Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), Nobre, que é ex-pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), acredita que o foco das políticas que vêm sendo adotadas para a Amazônia ao longo dos anos está totalmente errado, uma vez que, em vez de se apostar em medidas que possam gerar riquezas aproveitando todo o potencial da biodiversidade da região, o que temos visto são preferências por investimentos, públicos e privados, numa economia baseada na substituição da floresta por atividades de baixo valor agregado.
Em recente entrevista à IHU On-Line, o especialista argumentou que, durante muito, o debate sobre o desenvolvimento da Amazônia ficou restrito à tentativa de conciliar a proteção dos ecossistemas em unidades de conservação, terras indígenas e reservas extrativistas — primeira via — com a intensificação sustentável da agropecuária e contenção dos desmatamentos causados pela expansão das fronteiras agrícolas e da mineração e hidroeletricidade — segunda via. Segundo ele, isso não serviu para frear a expansão do desmatamento, "ainda que se deva reconhecer que a política de expansão das unidades de conservação e demarcação de terras indígenas foi fator preponderante na redução de mais de 70% nas taxas anuais de desmatamento entre 2005 e 2014".
Em declarações à Sputnik Brasil, Nobre afirmou que precisamos, hoje, de uma visão disruptiva para as florestas tropicais e, em especial para a Amazônia. Para ele, a postura mantida até aqui não daria conta de preservar a maior parte dos recursos naturais desses ambientes. Uma das alternativas, de acordo com o pesquisador, seria pensar como as tecnologias atuais, da 4ª Revolução Industrial, poderiam ser utilizadas para extrair valor econômico dos ativos biológicos e biomiméticos da floresta, o que ele chama de terceira via.
"É uma economia que pode ser muito mais inclusiva, que pode realmente trazer muito mais bem estar para as populações amazônicas do que a economia atual, que é muito baseada na exploração intensiva de recursos naturais, principalmente a partir do desmatamento para produção de commodities agrícolas, grãos, carne, exploração mineral, exploração de energia hidrelétrica. Essa economia tem mantido 90% da população amazônica nas classes C, D e E", explicou.
O climatologista destaca que a perseguição de uma bioeconomia, capaz de desenvolver economicamente a região e também o país, deve ser calcada na biodiversidade, "não uma bioeconomia que elimine a floresta" para que se plante outras coisas.
"Aí, você não atingirá um grande valor. A produtividade, a lucratividade, por exemplo, da pecuária na Amazônia é muito baixa. Mesmo monoculturas de soja, elas têm uma lucratividade maior, mas ela é potencialmente muito menor do que a lucratividade de produtos da biodiversidade."
Um exemplo mencionado por Carlos Nobre é o caso do açaí. Esse, segundo ele, é um produto que demonstra bem o potencial econômico da biodiversidade da Amazônia nesse contexto da sustentabilidade.
"Se nós conseguíssemos 100, 200 produtos da biodiversidade atingindo nichos de mercado globais, nós teríamos uma economia pelo menos cinco, talvez até dez vezes maior do que a economia atual, baseada em pecuária, baseada em produção de grãos e de madeira."
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