PGR denuncia Renan Calheiros ao STF na Lava Jato por lavagem e corrupção. É a primeira denúncia contra o presidente do Senado em inquéritos da Lava Jato; deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE); e diretor de fornecedora da Petrobras também foram denunciados.

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Renan Calheiros foi denunciado pela primeira vez em um processo da Operação Lava Jato. Ele já é réu uma ação penal no STF, acusado de desvio de dinheiro público, por supostamente ter recebido propina de um lobista para pagar despesas de uma filha (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou nesta segunda-feira (12) ao Supremo Tribunal Federal (STF) o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o deputado federal Aníbal Gomes (PMDB-CE) na Operação Lava Jato pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Os dois são acusados pelo Ministério Público de terem  cometido lavagem de dinheiro e corrupção passiva na contratação da empresa Serveng Civilsan pela Petrobras.
PGR denuncia Renan Calheiros pela segunda vez
O diretor da Serveng Civilsan Paulo Twiaschor  também foi denunciado por
Janot  por corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
Os dois parlamentares do PMDB negam terem cometido irregularidades. Já a fornecedora da Petrobras disse que recebeu com "indignação" a denúncia
contra um de seus executivos (leia abaixo mais detalhes sobre as versões dos acusados).
Para que Renan e Aníbal Gomes virem réus, os ministros do Supremo
precisam aceitar a denúncia e abrir uma ação penal. Antes, contudo, o tribunal deve notificá-los para que apresentem defesa prévia.
No posto de presidente do Senado, Renan teria a prerrogativa de ser julgado pelo plenário do STF, que reúne os 11 ministros da Corte. No entanto, já que o mandato do peemedebista no comando da casa legislativa se encerra em fevereiro, a denúncia deverá ser analisada pela Segunda Turma do Supremo, que é composta por cinco magistrados.
Na denúncia, Renan e Aníbal são acusados de terem recebido R$ 800 mil em propina e lavagem de dinheiro após doações oficiais da Serveng.
Segundo o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa – um dos delatores da Lava Jato –, os dois peemedebistas receberam propina para viabilizar o negócio.
Janot  afirmou na denúncia que, em  troca do suborno, os parlamentares ofereceram apoio para manter  Paulo Roberto Costa no comando da diretoria de Refino e Abastecimento da Petrobras. A acusação foi confirmada por outros delatores da Lava Jato, como Alberto Youssef, Fernando Soares – o Fernando Baiano – e o senador cassado Delcídio do Amaral (sem partido-MS).
O  procurador-geral  destacou  ainda  que, em  contrapartida, o ex-dirigente da Petrobras  agiu  para  que   a  Serveng   Civilsan  mantivesse   contratos   com    a estatal.
O  chefe do MP  ressaltou   ao  Supremo  que   tem   provas  das  irregularidades, como  o  registro  de  entradas   dos  suspeitos  na Petrobras   e  os  dados de quebra de sigilos   bancários  que, segundo  ele, confirmam  as  informações  prestadas  pelos delatores.

Doações dissimuladas

A  Procuradoria Geral da República relatou na denúncia que o diretor da Serveng que foi denunciado  fez   duas  doações  oficiais ao diretório nacional do PMDB  em  troca da retaguarda política do senador e do deputado do PMDB.
Conforme as investigações, uma das contribuições, de R$ 500 mil, foi repassada ao partido em 18 de agosto de 2010. A segunda doação, informaram os procuradores da República, foi de R$ 300 mil e ocorreu em 24 de setembro de 2010.
Posteriormente, afirma o MP, o dinheiro foi repassado do diretório nacional para o comitê financeiro do partido em Alagoas e de lá para Renan em operações financeiras fracionadas. A manobra foi classificada pela Procuradoria como uma "estratégia de lavagem de dinheiro".
Janot  pediu ao STF que Renan e Aníbal sejam   afastados dos cargos eletivos e, além disso, paguem  multa de R$ 1,6 milhão aos cofres públicos por conta dos crimes que teriam  cometido ao receber  propina em contrapartida ao contrato da Petrobras com a Serveng Civilsan.
Da indenização cobrada pelo Ministério Público, R$ 800 mil se referem a reparação por danos materiais e outros R$ 800 mil ao valor que teria sido desviado da estatal do petróleo.

Outras investigações

Renan Calheiros se tornou réu no início do mês acusado de peculato (desvio de dinheiro público), mas em uma investigação que não tem relação com o esquema de corrupção que atuava na Petrobras.
Neste processo, a PGR afirma que Renan fraudou movimentação financeira para justificar ter dinheiro para pagar a pensão de uma filha que teve em uma relação extraconjugal com a jornalista Mônica Velloso.
A denúncia desta segunda-feira foi apresentada em um dos oito inquéritos nos quais o senador peemedebista é alvo na Suprema Corte.
Além dos oito inquéritos em que é investigado na Lava Jato, Renan ainda responde a outros três inquéritos no STF, sendo um da Operação Zelotes – que apura um esquema de compra de sentenças no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf)–, um sobre fraudes na construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, e outro sobre movimentação financeira suspeita.

O que disseram os suspeitos

Em nota, a assessoria de Renan afirmou que o senador "jamais autorizou ou consentiu" que Aníbal Gomes "ou qualquer outra pessoa falasse em seu nome em qualquer circunstância" (leia a íntegra do comunicado ao final desta reportagem).
"O senador reitera que suas contas eleitorais já foram aprovadas e está tranquilo para esclarecer esse e outros pontos da investigação", destaca trecho da nota.
Já Aníbal Gomes disse ao G1 que ainda não havia tomado conhecimento da denúncia da PGR, mas negou envolvimento em qualquer irregularidade.
O parlamentar cearense afirmou que acompanhou representantes da Serveng em uma reunião com Paulo Roberto Costa. O encontro, segundo Gomes, teve como objetivo apresentar o projeto de um porto com investimento privado e questionar se a Petrobras tinha interesse em alugar um ponto do empreendimento.
“A Petrobras não se interessou, nada foi feito. E mesmo que tivesse acontecido, não envolvia dinheiro público”, disse.
Por meio de nota, a Serveng Civilsan informou à TV Globo que recebeu com "surpresa e indignação" a notícia de que um de seus funcionários foi também denunciado pela PGR.
"Ao longo de toda a investigação a empresa esteve à disposição das autoridades tendo inclusive prestado detalhado depoimento. A alegação de que a Serveng Civilsan fez doações eleitorais com o fim de 'participar de licitações mais vultosas na Petrobras' não faz qualquer sentido e sua inveracidade será provada na primeira oportunidade que nossa defesa tiver para se manifestar nos autos, diz trecho do comunicado divulgado pela empresa.
Leia a íntegra da nota divulgada por Renan Calheiros:
Nota Pública
O senador Renan Calheiros jamais autorizou ou consentiu que o deputado Aníbal Gomes ou qualquer outra pessoa falasse em seu nome em qualquer circunstância.
O senador reitera que suas contas eleitorais já foram aprovadas e está tranquilo para esclarecer esse e outros pontos da investigação.
Assessoria imprensa
Presidência do Senado
Leia a íntegra da nota divulgada pela Serveng Civilsan:
Apesar de não ter tido ainda acesso ao conteúdo da denúncia oferecida pela Procuradoria Geral da República, a Serveng Civilsan recebe com surpresa e indignação as notícias dando conta que um de seus funcionários foi também denunciado.
Ao longo de toda a investigação a empresa esteve à disposição das autoridades tendo inclusive prestado detalhado depoimento.


A alegação de que a Serveng Civilsan fez doações eleitorais com o fim de “participar de licitações mais vultosas na Petrobras” não faz qualquer sentido e sua inveracidade será provada na primeira oportunidade que nossa defesa tiver para se manifestar nos autos.

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