O casamento entre Napoleão e sua princesa austríaca se repete 200 anos depois

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Tela do casamento religioso entre Napoleão I e Maria Luísa, em 2 de abril de 1810.
Tela do casamento religioso entre Napoleão I e Maria Luísa, em 2 de abril de 1810. GETTY IMAGES.

Próximo enlace do herdeiro da casa Bonaparte com uma descendente da imperatriz Maria Luísa revive o famoso casamento do grande corso com a princesa austríaca. 





Já falta pouco para o casamento do ano, na catedral Saint-Louis-des-Invalides em 19 de outubro, entre Jean-Christophe Napoleão (Saint Raphaël, França, 1986), membro da família Bonaparte, e sua prometida, a condessa Olympia Elena Maria von un zu Arco-Zinneberg (Munique, 1988). A noiva é bisneta do último imperador da Áustria, Carlos I, e da imperatriz Zita, e sobrinha-neta (em seis gerações) da princesa imperial austríaca Maria Luísa (1791-1847), transformada em imperatriz dos franceses após se casar com Napoleão I em 1810. É bem improvável que nos convidem.




Olympia von und zu Arco-Zinneberg (no centro) com suas irmãs Anna Therese, Maximiliana, Marie Gabrielle e Giorgiana no casamento do príncipe Amedeo da Bélgica em Roma em julho de 2014.ampliar foto
Olympia von und zu Arco-Zinneberg (no centro) com suas irmãs Anna Therese, Maximiliana, Marie Gabrielle e Giorgiana no casamento do príncipe Amedeo da Bélgica em Roma em julho de 2014. GETTY IMAGES


Evidentemente, não era um casamento por amor. De fato, a princesinha, que tinha 17 anos quando foi concedida ao francês, à época com 40, foi educada em um ódio feroz ao Ogro Corso e anticristo que havia incendiado a Europa – e tomado Viena duas vezes, fazendo fugir a família imperial – e que ameaçava acabar com a realeza. Maria Luísa tinha até um soldadinho de madeira que batizou como Bonaparte e que costumava torturar como vingança. Quando seu amoroso, mas pragmático pai lhe comunicou que era concedida em casamento a Napoleão pensou que era uma brincadeira, mesmo que os Habsburgo fossem pouco dados a fazê-las. Aceitou porque não lhe restava outro remédio e porque as princesinhas devem se submeter à razão do Estado porque estão, ou estavam, aí para isso. A jovem, que guardava seu coraçãozinho e todo o resto a um primo com quem flertava em Hofburg, foi ao casamento na França como quem vai ao matadouro. Anteriormente havia realizado um casamento por procuração na igreja dos Agostinhos em Viena em que o noivo foi representado com a alegria que podemos imaginar o tio da noiva, o arquiduque Carlos, um dos inimigos mais acérrimos de Napoleão no campo de batalha. Como não se sabia o tamanho do dedo do imperador francês, o arcebispo de Viena benzeu 12 anéis de diferentes tamanhos.
Napoleão havia se encantado por Maria Luísa após revisar uma lista de 18 princesas casadoiras e descartar Anna Pavlovna Romanova, irmã de Alexandre I da Rússia – e que também significava uma aliança interessante – por ser muito jovem. Com 14 anos a russa ainda não era passível de se casar e Napoleão tinha pressa em conseguir um herdeiro de bom berço para assegurar a sucessão de sua nova dinastia e ligá-la às mais importantes. “Eu me caso com uma barriga”, é o que pouco elegantemente disse ao se decidir por Maria Luísa. Sem dúvida deveria causar um prazer mórbido ter como sogro alguém a quem venceu em Wagram.

O imperador francês já havia exprimido suas dúvidas sobre sua capacidade de ter filhos após não conseguir ter descendência com Josefina, que lhe acusava de ser estéril: em 1806 teve um filho (o futuro conde de León, por Napo-leon) com uma de suas amantes, Denuelle de la Plaigne. Napoleão só teve três filhos: o citado, o que nasceu em 1810 filho de Maria Walewska (Alexandre, conde Walewski), e o que Maria Luísa deu à luz em 1811, seu malogrado herdeiro, Napoleão II, o denominado Rei de Roma e O Filho de Águia, educado pelos Habsburgo como duque de Reichstadt e morto de tuberculose em 1832.
No caso de Maria Luísa, se casaria com uma barriga, mas assim que viu a bela princesa ressurgiu nele o jovem artilheiro. Ele a esperou em uma encruzilhada na fronteira, impaciente. Subiu na carruagem e parece que lá já ocorreu um substancial avanço na infantaria da linha de frente, porque a jovem chegou a Compiègne, local da cerimônia francesa, com o vestido suspeitosamente amassado. Depois não havia maneira de fazer com que saíssem do quarto de núpcias. Napoleão, se sabe, era muito fogoso na cama. Para ele, em todo encontro despontava o sol de Austerlitz. Tinha uma inclinação (que imagem) pela cunilíngua quase obsessiva (o que dá uma dimensão notável sobre sua famosa mensagem a Josefina, “chego amanhã, não tome banho”). Não sou eu quem digo, não me atreveria: é explicado, como o fato de que chamava seu membro viril de “o Barão de Kepen”, por um de seus mais recentes biógrafos, Andrew Robert (evidentemente Emil Ludwig não contava tudo isso).

Jean-Christophe Napoleão Bonaparte (no centro), com (à direita da imagem) o rei Guilherme da Holanda; Arthur Wellesley, Marquês do Douro, filho do nono duque de Wellington; e o príncipe Nikolaus Furst Blucher von Wahlstatt. À esquerda, o rei Filipe da Bélgica e o duque de Luxemburgo, na comemoração do bicentenário da batalha de Waterloo.ampliar foto
Jean-Christophe Napoleão Bonaparte (no centro), com (à direita da imagem) o rei Guilherme da Holanda; Arthur Wellesley, Marquês do Douro, filho do nono duque de Wellington; e o príncipe Nikolaus Furst Blucher von Wahlstatt. À esquerda, o rei Filipe da Bélgica e o duque de Luxemburgo, na comemoração do bicentenário da batalha de Waterloo.  CORDON PRESS


O caso é que Maria Luísa gostou dele. “Passou a noite toda rindo”, disse depois Napoleão, que recomendou no dia seguinte a seu ajudante de campo, Savary: “Querido, se case com uma alemã, são as melhores, doces, inocentes e frescas como rosas”. Também disse sobre sua esposa que era na intimidade complacente, “voire ardente”. A relação durou quatro anos. Ela não seguiu seu marido derrotado a Elba e a Santa Helena, depois. Assim que pôde voltou a Viena. Não demorou a se esquecer de Napoleão nos braços do conde de Neipperg, general charmoso, ainda que caolho. Teve com ele quatro filhos, dividiu o ducado de Parma e se casou após seu marido imperial morrer em 1821.
É de se esperar que o novo Napoleão, que é banqueiro de investimentos, formado por Harvard e não general, e sua prometida austríaca tenham melhor sorte em seu casamento que seus antecessores. Na verdade, é preciso dizer que ele, Jean-Christophe, que deve receber o tratamento de Sua Alteza Imperial (se você for convidado para o casamento) e é considerado sucessor legítimo de Napoleão I e Napoleão III e imperador por direito pelos bonapartistas dinásticos com o nome de Napoleão VII, não é descendente direto de Napoleão. E nem do imperador Napoleão III (sobrinho de Napoleão), cujo único filho (com Eugênia de Montijo), Louis Napoleão, foi exoticamente morto aos 23 anos em Ulundi pelos zulus em um caso exacerbado de que diabos estou fazendo aqui, sem deixar descendência. O jovem casadoiro descende da linhagem de Jérôme Bonaparte, rei da Westfalia, o irmão mais novo de Napoleão. A mistura dinástica da família, que se misturou a numerosas casas reais e nobrezas europeias – Jean-Christophe é filho da princesa Beatriz de Bourbon-Sicília – não impediu que os problemas próprios dos Bonaparte originais tinjam os novos ramos: o avô de Jean-Christophe o designou sucessor (coisa discutida dentro do bonapartismo) pulando seu pai, Charles, por seu divórcio e suas posições políticas de republicano de esquerda e simpatizante dos separatistas corsos...

Fonte: EL PAÍS Brasil.

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