Momentos de emoção marcaram a palestra “Saúde Mental: os desafios e possibilidades na prevenção ao suicídio”, proferida nesta segunda-feira (24), no auditório do Centro Administrativo do Tribunal de Justiça (Rua do Egito - Centro). A iniciativa – promovida pela Divisão Psicossocial com o apoio da Diretoria de Recursos Humanos – fez alusão à campanha “Setembro Amarelo”.
Na abertura do evento, a psicóloga Camila Buna falou da importância da iniciativa, da prevenção, da necessidade de se superar o tabu que envolve o tema suicídio, abrindo espaço para que se fale sobre o assunto, e fez um apelo aos servidores presentes: que ajudem o próximo.
“O suicídio geralmente é visto como tabu. Precisamos falar sobre o assunto, nos informar, ajudar quem está ao nosso lado ou procurar ajuda, se for o caso. Um olhar diferenciado, atento, delicado e especial ao nosso próximo pode ser decisivo nesses momentos”, frisou, informando que, no Judiciário maranhense, a maior causa de afastamentos médicos está ligada a transtornos mentais.
As palavras da psicóloga foram reforçadas pela diretora de Recursos Humanos, Mariana Clementino: “Peço, encarecidamente, que vocês disseminem as importantes informações aqui obtidas. Vamos dar essa palavra de conforto a quem precisa. Temos muito a contribuir, no nosso local de trabalho, nossa segunda casa”, disse.
PALESTRA - O bate-papo com os servidores sobre “Saúde Mental: os desafios e possibilidades na prevenção ao suicídio” foi conduzido pela psicóloga Marina Bentivi, especialista em Psicopedagogia, Logoterapia e Análise Existencial e mestranda em Educação para a Saúde. A profissional atua na área de psicologia clínica desde 2009, com experiência na área de saúde mental e educação.
A dificuldade em buscar ajuda, a falta de conhecimento e de atenção sobre o assunto por parte da sociedade e a ideia errônea de que o comportamento suicida não é um evento frequente constituem algumas barreiras para a prevenção.
A psicóloga alertou o público sobre os principais fatores que levam uma pessoa ao suicídio, considerados desafios na prevenção, tais como: transtornos mentais (depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia etc.), abuso de álcool e outras drogas, e, ainda, a ausência da cultura do cuidado com o emocional e o mental, reforçada por preconceitos do tipo “psicólogo é coisa de doido, fresco, fraco” e “quem quer tirar a própria vida quer chamar a atenção, é fraco, não valoriza a vida”.
“A saúde emocional precisa ser uma prioridade em nossa sociedade. Precisamos educar nossas crianças, especialmente os meninos, a falarem, desde cedo, sobre suas emoções”, destacou a psicóloga, citando dados do Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil, do Ministério da Saúde (2017), segundo o qual, entre 2011 e 2016, foram registradas 62.804 mortes por suicídio, onde 79% são homens.
Já segundo o Sistema de Informação de Gravos de Notificação relativos aos registros de lesão autoprovocada e tentativa de suicídio, 69% dos casos são referentes às mulheres.
A psicóloga também chamou a atenção dos servidores para a necessidade de repensarem suas vidas, sua missão social no trabalho, na comunidade, no mundo, enfatizando sempre a importância de se desenvolver a empatia no dia a dia (colocar-se no lugar do outro).
Marina Bentivi finalizou a palestra, parafraseando Victor Frank: “Se percebemos que a vida realmente tem um sentido, percebemos também que somos úteis uns aos outros. Ser um ser humano é trabalhar por algo além de si mesmo”.
SUPERAÇÃO – O ápice do evento aconteceu durante o depoimento emocionante do servidor João Paulo Teixeira, lotado na Divisão de Acompanhamento e Desenvolvimento na Carreira (integrante da Diretoria de Recursos Humanos), que após vivenciar várias crises de depressão, desde a adolescência, tentou tirar a própria vida, há poucos anos.
Ao explicar aos servidores cada fase (medicamentosa, álcool, fuga, isolamento, internação em clínicas etc.) vivida durante as crises, João Paulo ressaltou que o apoio da família e dos amigos no local de trabalho foi fundamental para que ele superasse a problemática.
“Passei um ano, sofrendo calado, com depressão, o que só piorava o meu quadro. Na primeira crise, imaginei que fosse aquela tristeza normal, típica da adolescência, de frustrações. Anos depois, quando a crise veio de forma mais contundente e forte, fui percebendo que era algo realmente mais sério. Demorei a me aceitar como depressivo e a buscar ajuda. É fundamental nos aceitarmos, durante esse processo. Além disso, a ajuda dos meus amigos do trabalho e dos familiares foi primordial. Sem eles, que me estenderam a mão, jamais teria conseguido”, confidenciou.
“Atualmente, estou bem, me sinto renascido, sem tratamento e livre de medicações há mais de dois anos. Essa foi a maneira que a vida encontrou para me resgatar. Agora, tenho tentado ajudar, também, as pessoas ao meu redor, como forma de retribuir ao mundo. Afinal, a nossa vida não tem razão nenhuma se não pudermos auxiliar o próximo”, disse.
No final do evento, o servidor fez um agradecimento especial a todos os amigos do trabalho que lhe ajudaram quando ele mais precisou, inclusive a psicóloga do TJMA, Tatiana Oliveira, com quem ele se tratou na época.
DADOS – De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio no mundo e 96% dos casos estão ligados a algum tipo de transtorno mental.
Segundo a OMS, 90% dos casos poderiam ser evitados, o que reforça a importância da prevenção a esse grave problema de saúde pública.
SETEMBRO AMARELO – O Setembro Amarelo é uma campanha iniciada em 2014, pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). De acordo com a ABP, o suicídio é um problema de saúde pública e vários fatores podem impedir a detecção precoce de uma possível ocorrência, como o tabu no diálogo sobre o tema.
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