ELEIÇÕES 2018! MELHOR FICASSE CALADO: Especialistas rebatem Mourão mães e avós são fundamentais para a formação de jovens e crianças

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General Hamilton Mourão, candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro pelo PSL - Jorge William / Agência O Globo. 

RIO - Especialistas afirmam que mães e avós são fundamentais para a formação de jovens e crianças. A avaliação contradiz o entendimento do general Hamilton Mourão (PRTB). Na opinião do candidato a vice de Jair Bolsonaro, lares chefiados por mulheres são “fábricas de desajustados”.


Para os estudiosos, não há dados que comprovem a tese de Mourão. A economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Ana Amélia Camarano lembra que 44% da renda das famílias no país vêm da mulher:

— Os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família no Brasil, na Índia e no México são destinados para as mães, porque já é sabido que elas investem mais nos filhos e na casa que os homens. Isso é um discurso preconceituoso e reacionário, quando os filhos de mulheres desquitadas sofriam bullying. Lidei com isso nos anos 1980, nunca pensei que voltaria a escutar uma coisa dessas.
O papel das avós também fundamental nas famílias, principalmente na zona rural. Com a aposentadoria rural, as mulheres idosas começaram a ter renda:
— A renda delas tirou as crianças do trabalho e as colocou na escola — afirma Ana Amélia.


O trabalho não impede que a mulher continua ser a principal cuidadora do lar. Entre as mulheres que trabalham, 40% cuidam dos moradores, contra 30% dos homens ocupados. Auxiliar nos cuidados pessoais, nas atividades escolares e levar a médico e para exames médicos são tarefas muito mais femininas, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, de 2017.

11MILHÕES DE LARES

Atualmente, há no Brasil 11 milhões de lares compostos de mulheres sozinhas com filhos, o que representa 16,3% dos domicílios.

O demógrafo José Eustáquio Alves, da escola de estatísticas do IBGE, destaca que não é possível ver relação de causa e efeito entre a estrutura familiar a vulnerabilidade social. Ele lembra que cruzamento de dados podem até indicar, por exemplo, renda mais baixa nas famílias com essa composição, mas a origem não é necessariamente a composição da família.

— Uma uma mulher pobre, que tem dois, três filhos, vai ficar numa situação de vulnerabilidade, mais representadas na pobreza. Há setores que veem o casamento como solução. O problema é que a mulher pode casar com alguém que, em vez de ajudar, atrapalha. Há uns dez anos, fizemos um estudo comparando famílias para entender o que contribuía mais para diminuir a pobreza, um marido ou máquina de lavar. Entre um homem que não trabalha e uma máquina de lavar, a máquina contribui mais para a redução da pobreza — conta.

O economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), avalia que não há dados para confirmar as declarações de Mourão.


— A priori, tenho mais preocupação com famílias onde os filhos morem só com pais do que onde os filhos moram só com a mãe. A mãe é muito mais importante para a formação da criança. O ideal é ter uma família bem ajustada. Mas não quer dizer que uma família chefiada só por homem ou só por mulher não possa ser bem ajustada — afirma.

A pesquisadora Elizabeth Dória Bilac, professora aposentada da Unicamp, lembra que o conceito de associar mulheres à pobreza vem do período colonial. Mas se tornou obsoleto.

— As mulheres ganham menos que os homens. Só que as mulheres têm outras formas de acesso a bens que não são necessariamente financeiras, não são monetárias, como a rede de parentesco e dividir serviços — analisa. 


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