O elo entre Flávio Bolsonaro e a milícia investigada pela morte de Marielle

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Operação Intocáveis busca miliciano que tinha mãe e mulher lotadas no gabinete do então deputado estadual. Filho de presidente diz que nomeações foram feitas por Queiroz. 


Flávio Bolsonaro ao lado do pai.

Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega. As duas mulheres são o elo entre o senador eleito Flávio Bolsonaro e o grupo miliciano Escritório do Crime, um dos mais poderosos do Rio. O grupo é também suspeito de envolvimento no assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. Segundo o jornal O Globo, Raimunda e Danielle são, respectivamente, mãe e mulher do capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, vulgo Gordinho, tido pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como uma das lideranças do Escritório do Crime. As duas foram lotadas no gabinete do então deputado estadual Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, mas o filho do presidente diz não ter sido responsável pelas nomeações. 
Adriano, que está foragido, foi um dos alvos da Operação Intocáveis, realizada nesta terça-feira por uma força-tarefa da Polícia Civil e do Ministério Público. Foram presos cinco suspeitos de integrar a milícia que agia nas comunidades de Rio das Pedras e Muzema. Além do suposto envolvimento no assassinato de Marielle e Anderson, o grupo é acusado de extorsão de moradores e comerciantes, agiotagem, pagamento de propina e grilagem de terras.
Entre os detidos esta o major da Polícia Militar Ronald Paulo Alves Pereira, vulgo Tartaruga, que irá a júri popular no caso da chacina da Via Show, ocorrida em 2003. Apesar disso, em 2004 o deputado Flávio Bolsonaro propôs uma “menção de louvor e congratulações” ao então capitão Pereira. Adriano também foi homenageado. Tanto Ronald como Adriano foram ouvidos em 2018 pela Delegacia de Homicídios como parte das investigações caso Marielle.
Apesar do foco da ação desta terça ser o combate às milícias, a operação deve desgastar ainda mais o primogênito do clã Bolsonaro no caso Queiroz. Isso porque, além do parentesco com um suspeito do envolvimento na morte de Marielle e Anderson, Raimunda é mencionada no relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras como sendo responsável por parte dos depósitos feitos na conta do ex-motorista Fabrício Queiroz. Ela e Danielle foram exoneradas do gabinete de Flávio em 13 de novembro, segundo consta no Diário Oficial.
Em nota, Flávio afirmou ser "vítima de uma campanha difamatória com o objetivo de atingir o Governo de Jair Bolsonaro". Segundo ele, "a funcionária que aparece no relatório do Coaf foi contratada por indicação do ex-assessor Fabrício Queiroz". De acordo com o senador, ele não pode "ser responsabilizado pro atos que desconheço".
Não é a primeira vez que o clã Bolsonaro se vê envolvido na discussão sobre milícias. Em 2008, época em que ainda era deputado federal, Jair chegou a defender a atuação destes grupos criminosos no plenário da Câmara. "Existe miliciano que não tem nada a ver com 'gatonet' e venda de gás. Como ele ganha 850 reais por mês, que é quanto ganha um soldado da PM ou do bombeiro, e tem a sua própria arma, ele organiza a segurança na sua comunidade", afirmou. Em outra ocasião, naquele mesmo ano, o capitão da reserva foi ainda mais direto: “Elas oferecem segurança e, desta forma, conseguem manter a ordem e a disciplina nas comunidades. É o que se chama de milícia. O governo deveria apoiá-las, já que não consegue combater os traficantes de drogas".
Queiroz é citado no relatório do Coaf após ter sido identificada uma movimentação atípica no valor de 1,2 milhão de reais em sua conta entre 2016 e 2017, valor incompatível com seus vencimentos de assessor parlamentar segundo o órgão. De acordo com ele, o valor seria fruto de operações de compra e venda de carros usados. Depois que o caso veio à tona, o ex-motorista de Flávio desapareceu. Segundo o colunista do Globo, Lauro Jardim, ele ficou abrigado por duas semanas em uma casa na comunidade Rio das Pedras, onde a milícia alvo da Operação Intocáveis agia.
Nos últimos dias documentos do Coaf divulgados pelo Jornal Nacional apontam que Flávio realizou um pagamento milionário de título bancário, além de ter recebido 96.000 reais pagos em espécie, em vários depósitos de 2.000 reais. Ele afirma que o título é referente ao pagamento de um imóvel adquirido na planta, e que os depósitos são fruto da venda de um apartamento - o comprador, Flávio Guerra, confirma a compra. Segundo ele, a opção por realizar vários depósitos no caixa eletrônico foi feita para evitar "pegar fila" na agência bancária.
A reportagem não conseguiu entrar em contato com a defesa dos acusados.

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