BRASIL! ELEIÇÕES/2022: 'Destempero de Bolsonaro abalou economia do País’, diz Moro

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 (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil). 

Estadão. 

O ex-juiz Sérgio Moro, pré-candidato à Presidência pelo Podemos, avalia que as intenções de “golpe” do presidente Jair Bolsonaro prejudicam a economia brasileira e afugentam investidores estrangeiros do País.  “Muita gente atribui essa escalada gigante do dólar no ano passado e por consequência a elevação da inflação do preço dos alimentos e combustíveis a esse destempero verbal do presidente”, diz em entrevista ao Estadão. 

Moro também não economiza críticas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula e ao PT. Segundo ele, ao não reconhecer seus erros passados em investigações sobre corrupção e também na condução da economia, o ex-presidente “está fadado a repeti-los” “Sou muito diferente de Bolsonaro e de Lula. Absolutamente incompatível”, afirma o ex-juiz, prometendo “arrebentar a polarização”.

Qual a chance de o senhor, recém-filiado ao Podemos, já trocar de partido para o União Brasil?

Tem muitas especulações. O que existe de concreto é que nós estamos construindo um projeto, com um grupo de especialistas capitaneado pelo Affonso Pastore, e construindo alianças políticas a partir do Podemos. Estamos fortalecendo o Podemos, com o ingresso de componentes do Movimento Brasil Livre (MBL).

O MBL vai ser seu exército na guerrilha virtual com o bolsonarismo? O senhor já adotou até um verbo ao estilo deles, “arrebentar” a polarização…

O MBL é muito hábil nesse debate virtual, mas essa expressão “arrebentar a polarização” é de fato minha. Nós estamos estruturando a parte de comunicação da pré-campanha nas redes sociais e precisamos de aliados. No fundo isso surge de uma maneira muito orgânica, não usamos ou utilizaremos jamais mecanismos artificiais, robôs, por exemplo.

O senhor é ex-ministro de Bolsonaro, tem o apoio de vários ex-bolsonaristas. É correto dar razão a quem diz que o senhor quer ser uma versão melhorada do presidente?

Sou muito diferente de Bolsonaro e de Lula. Absolutamente incompatível. Aceitei o convite porque entendi que havia uma chance de dar certo e que a minha pauta era desejada pelo País de combate à criminalidade, não só corrupção, mas violência e crime organizado. Logo percebi que essa pauta tinha sido sabotada pelo próprio presidente e preferi deixar o governo. Ninguém se torna cúmplice do Bolsonaro por ter querido realizar seus sonhos, que na verdade são sonhos para o País também.

Se arrepende de ter assumido cargo no governo?

De forma nenhuma. No governo, eu permaneci fiel ao meu projeto, princípios e valores. Tenho muito orgulho de ter deixado o governo, foi a melhor decisão que eu tomei.

O senhor ficou tempo demais?

Não podia deixar o governo antes de o projeto anticrime ser votado. A Câmara inseriu modificações que pioraram o texto, e resolvi ficar até o veto presidencial. Foi um dos momentos no qual o presidente traiu o País. Paralelo a isso, o presidente havia feito movimentos para interferir na Polícia Federal, que em mãos erradas pode ser utilizada em detrimento da população. Quando o presidente passou por cima de mim e trocou o diretor, acabaram as razões para minha permanência.

Críticos e alvos da Lava Jato sempre alegaram interesses políticos por parte do senhor e integrantes da operação. A entrada do senhor e de Deltan na política não dá razão a eles?

Durante o governo do PT você teve os dois maiores casos de corrupção da história, o mensalão e o petrolão. Esses casos foram investigados, contêm provas robustas. Nós fomos apenas juiz, promotor, policial, apenas veículos da revelação desses fatos. O sistema político reagiu para impedir novas investigações e novos processos contra grande corrupção. Toda vergonha disso reside não em quem lutou contra a corrupção, mas exatamente contra quem agiu para desmantelar o combate à corrupção.

O senhor subiu o tom contra Lula, depois de ele lhe chamar de canalha. Até então isso era incomum. O tom será esse agora?

Precisamos reagir quando Lula mente dizendo que não houve corrupção na Petrobras, ofendendo a Lava Jato, que salvou a Petrobras das garras do PT. Essas reações provavelmente persistirão porque não se vê o PT abandonando essa narrativa de mentiras. Se não faz isso, se simplesmente nega a realidade, nega os fatos, está fadado a repeti-los.

Bolsonaro costuma dizer que não há corrupção no governo dele. O senhor consegue confirmar isso?

Não vejo hoje a Polícia Federal com condições de autonomia suficientes para realizar grandes operações contra a corrupção, assim fica muito fácil afirmar que não existe corrupção dentro do governo. Do outro lado, o presidente abraçou a política fisiológica e o orçamento secreto. As velhas práticas estão de volta.

Defende alguma mudança no teto de gastos?

A discussão é imprescindível, vai estar no nosso programa, seja restaurando o teto, seja dando uma nova forma para evitar o descontrole da dívida pública. Qualquer outra proposta é ilusão. O crescimento econômico depende principalmente do elemento confiança e essa confiança foi rompida, tanto pelos discursos erráticos do presidente da República em matéria econômica, quanto pelo planejamento no ano passado de uma espécie de golpe de Estado.

Quando Bolsonaro tentou um golpe de Estado?

Passou 2021 inteiro falando em questionar a legitimidade das eleições, em realizar movimentos agressivos contra as instituições. O abalo que isso trouxe à credibilidade do Brasil e igualmente a nossa economia… Muita gente atribui essa escalada gigante do dólar no ano passado, a elevação da inflação, do preço dos alimentos e dos combustíveis a esse destempero verbal do presidente.

Lula acena aos trabalhadores com a revisão da reforma trabalhista. Há correções a serem feitas?

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