Líderes mundiais estão reunidos na Polônia, na COP 24, para definir ações por energias renováveis.
Greenpeace faz protesto contra mudança climática em Berlim nesta segunda-feira, 11 FOCKE STRANGMANN EFE.
As mudanças climáticas já estão afetando a vida das pessoas e o funcionamento dos ecossistemas em todos os cantos do mundo, e portanto são um dos maiores desafios para o futuro de nossa estrutura socioeconômica.
O clima do planeta já está mudando, com um aquecimento até o momento de 1oC desde o início da revolução industrial, que poderá atingir 3oC a 4oC ao longo deste século, com impactos importantes em toda a estrutura social que construímos até o momento. Para evitar esse cenário, precisamos reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE) em duas frentes principais: parar a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento de florestas tropicais.
Há mais de 20 anos as COPs (Conferência das Partes sobre Mudança do Clima das Nações Unidas) tentam implementar políticas de reduções de emissões de gases de efeito estufa. O Acordo de Paris, que congrega metas nacionais voluntárias de redução de emissões para 197 países no âmbito da ONU, é a única ferramenta em vigor que traz alguma governança nesta crítica necessidade de construir uma sociedade sustentável globalmente.
A meta é limitar o aquecimento global a no máximo 2oC e fazer todo o esforço possível para que em média este aumento não passe de 1.5oC.
Na área de redução de emissões através do uso do solo e florestas, a Amazônia possui um papel fundamental. Mesmo assim, o Brasil desmatou cerca de 7.000 Km² de florestas primárias apenas em 2017. Isso significa a destruição de um ecossistema único e importante, além do aumento das emissões que causam o aquecimento global.
O compromisso brasileiro no Acordo de Paris é de uma redução de 43% de suas emissões totais de GEE até 2030, em relação aos valores de 2005. Para isso, é importante zerarmos o desmatamento ilegal, implementar no setor agropecuário Tecnologias de Baixo Carbono, e realizar a recomposição florestal de pelo menos 12 milhões de hectares.
A efetiva implementação destas metas trará benefícios significativos para a economia nacional, pois resultará na melhoria tanto da produtividade quanto da competitividade dos produtos agropecuários brasileiros, além de propiciar a conservação, restauração e uso sustentável da vegetação nativa, que representa um dos principais ativos que o Brasil possui.
Como reiterado pela ciência no relatório especial do IPCC, divulgado em outubro deste ano, manter o aumento da temperatura global dentro do limite de 1,5oC requer, além de zerar o desmatamento, interromper urgentemente a queima de combustíveis fósseis. Para tanto, também se faz necessária uma transformação radical na forma de se produzir e consumir energia, e no uso dos recursos naturais para este fim.
O Brasil também tem muito a contribuir nesse setor. As energias renováveis têm se mostrado cada vez mais uma solução ambientalmente sustentável, economicamente viável e socialmente justa – se produzida seguindo um padrão de consulta e informação às populações vizinhas dos parques onde essas fontes serão instaladas.
As alternativas estão dadas. A geração fotovoltaica e eólica, por exemplo, podem substituir facilmente a demanda por energia de todo o planeta, a preços competitivos. Já ficou demonstrada a possibilidade tecnológica de implementá-las em grande escala e de forma distribuída, devolvendo o poder às comunidades sobre a produção de sua própria energia. Aliada à eletrificação dos veículos, as fontes renováveis são a chave para se pensar um país livre dos combustíveis fósseis já nas próximas décadas.
Mas, como vivemos em um planeta onde a atmosfera é compartilhada por todos, o esforço de redução de emissões tem que ser global e em todos os níveis e setores da economia. Para isso precisamos do apoio de empresas, governos, instituições públicas e privadas nessa empreitada. Desinvestir de projetos ligados a combustíveis fósseis e redirecionar esses fundos para iniciativas ligadas a fontes alternativas de geração de energia é um dos caminhos para se atingir esse objetivo.
Enquanto líderes mundiais estão reunidos em Katowice, na Polônia, na COP 24, para definir ações e compromissos nacionais para assegurar essa transição, a crescente campanha pelo desinvestimento em fontes como carvão, petróleo e gás acaba de atingir a marca de adesão de 1000 instituições, cujos ativos somados giram em torno de 8 bilhões de dólares (31 bilhões de reais).
O objetivo do movimento é incentivar diversos atores econômicos a não injetar mais recursos financeiros em empresas ligadas a combustíveis fósseis, a fim de retirar sua licença social e econômica.
Parar a atividade de indústrias poluentes, seja pela retirada de subsídios às mesmas, seja pela ação direta popular, é a única saída para a sustentabilidade ambiental de nosso planeta. Temos à frente uma verdadeira catástrofe climática a evitar, e temos que agir já.
*Paulo Artaxo é professor titular do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da World Academy of Sciences (TWAS) e da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (ACIESP). É membro do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) e de sete outros painéis científicos internacionais.
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