"O importante é o golpe, é o conteúdo". Assim falou Décio Lima ao explicar o momento que vive o Brasil, comentando as polêmicas levantadas por José Sócrates em conversa com jornalistas estrangeiros. Em seu discurso, o ex-primeiro-ministro de Portugal, que é investigado por corrupção, lavagem de dinheiro e fraude, disse que o assunto mais comentado atualmente no Brasil, as denúncias contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lembra em muitos aspectos o seu próprio caso. Para ele, tanto aqui como lá, tudo não passa de estratégia política para impedir o possível retorno dos dois ao poder, em seus respectivos países.
Segundo Sócrates, não há dúvida de que a maior ex-colônia lusitana passou por um processo de golpe de Estado quando do impeachment da então presidenta Dilma Rousseff, no ano passado. Ele lembra que, na ocasião, figuras como Fernando Henrique Cardoso e José Serra até foram a Portugal para explicar o que estava acontecendo no Brasil, em busca de legitimidade para a brusca mudança.
"O Brasil é um país de 200 milhões de habitantes. É muito difícil fazer um golpe de Estado sem que as pessoas se deem conta. O que aconteceu no Brasil foi uma coisa extraordinária. A direita política brasileira quis convencer o mundo de que podia mudar as regras no meio do jogo: de um regime presidencialista para um regime parlamentar", comentou o socialista.
Julgando o comportamento também de outras personalidades públicas brasileiras, o ex-premier português não economizou críticas ao presidente Michel Temer, a quem descreveu como alguém que entrou pela porta dos fundos, e ao juiz Sérgio Moro, responsável pelo julgamento da Lava Jato em primeira instância.
Para Décio Lima, Sócrates tem razão inegável em sua avaliação sobre o atual quadro brasileiro, inclusive no que diz respeito a Moro, que, embora não ocupe cargo político, é acusado por muitos de não ser imparcial em suas decisões.
"O Moro está indo, com as decisões dele, para o lixo do arcabouço jurídico ocidental", afirmou o deputado, acusando o magistrado de desprezar os procedimentos de legalidade e a cultura jurídica, estabelecer um tribunal de exceção e ferir princípios do humanismo. "O ex-primeiro-ministro de Portugal, quando faz esses desaforamentos, é porque são visíveis os processos seletivos. Há duas justiças".
Ainda de acordo com o parlamentar, há inúmeros irregularidades institucionais acontecendo no Brasil, desde o impeachment de Dilma Rousseff, que são inexplicáveis.
"O Brasil, todo mundo sabe, está sendo palco e vítima de um golpe, um golpe articulado pelo sistema financeiro."
Por último, o deputado acrescenta que, independente da permanência ou não de Michel Temer na presidência, as medidas e reformas que vêm sendo adotadas pelo atual governo deverão ser mantidas se seus aliados de hoje continuarem no poder. Ele acredita que o cenário que estão desenhando no país é uma resposta ao que vem acontecendo em outras partes do mundo, onde o neoliberalismo dita as regras do jogo.
"O importante é o golpe, é o conteúdo. Esse conteúdo é o conteúdo neoliberal, e ele não tem saída, tem já consequências, recessão, desemprego. É o que acontece em todos os lugares do mundo que são neoliberais. Atendem sobretudo ao sistema financeiro, que hoje é um problema no mundo."
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