Editora-chefe do RT dá conselhos à CIA como fazer todos crerem que Rússia 'não é normal'

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Editora-chefe da Sputnik e do RT Margarita Simonyan



Confira na íntegra o novo post da editora-chefe da Sputnik e do RT, Margarita Simonyan, no qual ela dá vários conselhos à CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA).

É preciso que aviem alguém ou vários conselhos à querida CIA.
Nesta semana, eu tive umas conversas arrebatadoras com um jornalista de um dos mais prestigiados canais de TV norte-americanos. Ele estava construindo uma investigação sobre como o Kremlin matou Kara-Murza [correligionário do opositor Boris Nemtsov, assassinado em 2015]. Antes disso, este jornalista comunicou comigo apenas uma vez, quando estava construindo uma investigação sobre como o Kremlin matou Lesin [magnata russo dos meios de comunicação e ex-ministro].
Apesar da esperança mal dissimulada (para não dizer da forte antecipação) com a qual muitos estavam aguardando pela morte de Kara-Murza, ele, graças a Deus, sobreviveu. Há boatos que ele até já esteja saindo da terapia intensiva. Eu, sem dúvida, que lhe desejo toda a saúde.
Parece que já não vai haver uma investigação americana. Como não morreu, não há nada a fazer. Aquele jornalista, a propósito, me tentava persuadir de viajar para Londres para discutir este tema. "O shopping aqui é sensacional, venha, mesmo que seja por apenas meio dia", escreveu ele para mim. Eu respondi: "Shopping não me interessa. Como o senhor sabe, aqui somos todos obrigados a usar uniforme militar." Ele não ficou admirado. A sério — não ficou mesmo. Ele acredita que isso bem pode ser verdade. Porque eles se convenceram a si mesmos que nós não somos normais. Há muito muito tempo e por muito tempo.
E esta é uma das razões (não a principal, mas uma delas) por que eles se abespinharam contra Trump. Para a maior parte do establishment ocidental a ideia que a Rússia é normal é como se a Terra fosse quadrada. Uma pessoa que diga publicamente que a Rússia é normal ou é idiota ou um provocador, ou as duas coisas ao mesmo tempo.
Na imprensa, e até em declarações de várias figuras públicas, evidenciamos cada dia esta manifestação à beira do racismo sobre a nossa não normalidade inerente, natural e incorrigível. O mais terrível é que isto nem sempre acontece devido a quaisquer esquemas rebuscados de alguém. Na maioria dos casos, é por estupidez banal. Por falta de informação, ignorância infantil, falta de hábito de trabalhar com fatos e por avidez pelas fórmulas já prontas a serem consumidas sobre a ordem mundial — por tudo aquilo que se chama com a linda palavra inglesa "ignorance". América gosta de fast-food. Em tudo.
A Rússia não é normal. É habitual pensar assim.
— Esperem aí, vamos analisar. Por exemplo, neste caso concreto a Rússia…
— Mas não há nada para analisar! Está tudo claro! Não há tempo, vamos embora.
Evidenciamos tais casos cada dia no nosso trabalho. A cada maldito dia. E aí, nesta semana, mais uma vez, mais um conselheiro de mais um Biden divulgou mais uma historinha de terror, dizendo que gastamos 400 milhões de dólares apenas com o nosso escritório nos EUA. Claro que isso é um disparate total. O nosso orçamento total, com TUDO mesmo, inclusive os escritórios em todos os países, pagamento de salários, viagens de negócios, transbordos, compras, impostos, aluguéis, seguros, ou seja, absolutamente tudo — é de pouco mais de 300 milhões, e estes dados estão em livre acesso.
Você pensa que o conselheiro de Biden se dá de conta que está falando bobagem, mas que o está falando de propósito, para exagerar o perigo? Nada disso. Ele sabe nada, porra. Não é uma coisa de reis — saber alguma coisa. Até sobre aquilo que você fala em público.
Já faz muito que ninguém se importa com fatos. Há uma conclusão: a Rússia não é normal. Com todas as consequências. Já os factos devem ser apenas adaptados a esta conclusão. Eu não li nem um artigo sobre nós sem que ele tivesse um monte de mentiras, erros intencionais e não intencionais, números, eventos e nomes enganosos e assim por adiante. Entretanto, o artigo sempre nos acusa a nós de mentiras e fake news. Como foi no famoso relatório dos serviços secretos no qual o meu nome é mencionado 27 vezes e mais ou menos o mesmo número de vezes — dados que não têm nada a ver com realidade. Que era fácil de guglar e evitar passar vergonha. Mas isso não é coisa dos reis.
O establishment está conduzindo uma guerra santa para fazer Trump parar suas tentativas criminosas de reconhecer a normalidade da Rússia. Talvez ele até nem faça tais tentativas, mas ele pelo menos declarou isso publicamente, o que já fica fora dos limites do aceitável. Nesta batalha, qualquer munição serve. Claro, seria melhor que cá aviassem alguém. Algum ativista de uma organização pró-ocidental. De preferência, ligado ao filho predileto do público, Khodorkovsky. Melhor ainda — um jornalista americano. E pronto, tá seco. Podemos abrir o champanhe. Trump já não poderá fechar olhos a isso. Vale lembrar que ele é, em primeiro lugar, um americano.
Não me consigo conter sem dar alguns conselhos à CIA coletiva sobre aquilo que devem fazer enquanto não morreu ninguém, poxa.
1. Façam o povo se lembrar dos hackers. Enquanto o povo ainda não esqueceu. Este artigo aí é mesmo o que é preciso. Afundem mais. Para que as pessoas tenham medo de descarregar água na privada.
2. Façam todos se lembrarem que Trump a) está fisgado pela Rússia, b) já acordou tudo com Putin. Como, por exemplo, ontem, quando de repente respeitáveis canais americanos contaram que foi encontrada uma confirmação da festinha de Trump com marginais da sociedade em Moscou. Esses mesmos canais disseram que Putin entregará Snowden a Trump. Em ambos os casos, a informação é 100% certinha. Claro que com referência aos serviços secretos.
Não parem. Apertem até ao fim.
3. Façam o povo se recordar da "perfídia" do canal RT e da agência de notícias Sputnik. Usem um vocabulário mais assustador. Não é necessário buscar motivos informativos, as pessoas já se habituaram. Afundem-nos de todos os modos possíveis! Como, por exemplo, o fez ontem a porta-voz da OTAN, dizendo que a Sputnik é propaganda. Depois da BBC, isto foi reeditado por toda a mídia de prestígio do Reino Unido. Não foi por encomenda, claro. Apenas gostaram do texto.
4. Mas o melhor seria aviarem alguém. Para que dê certo. Não sou eu quem vos deve ensinar.
P.S.
Claro que não lhes devolveremos Snowden. A despeito de ele, ingrato, criticar o nosso partido e o nosso governo em seus Twitters e outras Interrnets. Simplesmente porque não se devolvem as pessoas do Don. E isso também prova que a Rússia é normal.
A opinião da autora pode não corresponder às do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Kremlin, Putin, hackers russos e Dmitry Kiselev [diretor-geral da Sputnik].
A frase "mas o melhor seria aviarem alguém" foi usada em um contexto irônico e isto não é um apelo para que os serviços secretos norte-americanos matem alguém na realidade.
Na Rússia não é exigido usar uniforme militar, foi uma piada.

© Sp

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